martes, 29 de abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

ATLETAS X DITADURA:

Marco Antonio Vargas Villalobos[1]
Marcelo Outeiral[2]

O fim da Segunda Guerra em 1945 marcou o início de uma nova correlação de forças na ordem mundial.
Derrotados o nazi-fascismo e o Império japonês, consolidaram-se duas superpotências: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e os Estados Unidos da América. Os interesses defendidos por elas levaram o mundo à formação de blocos antagônicos, cujo resultado prático foi a Guerra Fria.
O fim do conflito mundial reforçou os novos rumos da estratégia político-militar dos Estados Unidos em relação à América Latina. Ela passou a ter como referência a hipótese de uma agressão extracontinental, com origem na União Soviética. Os países latinos deveriam contar com forças convencionais capazes de resistir a uma ofensiva comunista.
Os resultados práticos foram visíveis. O Congresso americano aprovou uma lei de segurança mútua que oferecia um programa de assistência militar para modernizar as Forças Armadas da região. Assim, entre 1951 e 1968, os Estados Unidos enviaram 500 milhões de dólares para aquisição de armamentos. Além de armas, a ajuda foi implementada sob a forma de financiamentos generosos para projetos de desenvolvimento.
Em 1959, Fidel Castro, liderando um exército revolucionário, derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista instalando o primeiro regime comunista da América Latina, a poucos quilômetros da Flórida. O fato fez com que surgisse um novo sentido de segurança para região:

SOB A DOUTRINA DA SEGURANÇA NACIONAL
O conceito de segurança nacional está relacionado ao poder concedido à Nação, pelo Estado, de impor seus objetivos a todos os setores que se oponham a eles.
Concebida no tempo da Guerra Fria, a Doutrina de Segurança Nacional baseava-se no postulado da bipolaridade, que definia um mundo dividido em dois blocos antagônicos e irreconciliáveis: o capitalismo e o comunismo. A ideologia passava por cima da segurança individual, e era utilizada em nome da luta contra o comunismo, a favor do desenvolvimento econômico.
O temor das forças conservadoras de direita era o crescimento de movimentos de governos de inspiração esquerdista. Especialmente o Brasil, sentia-se ameaçado. O anti-americanismo crescia no final da década de 60. No Peru, em 1968, Belaunde Terry foi derrubado pelo golpe do General Juan Velazco Alvarado que instituiu um regime militar nacionalista-renovador. Na Bolívia, em 1970, o General Juan José Torres, apoiado por militares nacionalistas e setores populares, destituiu o General Alfredo Candia. Além disso, havia a subversão interna no Uruguai, o peronismo na Argentina; e também a vitória de Salvador Allende da Unidade Popular; pelo voto direto, nas eleições presidenciais chilenas de 1970.
O crescimento desta indisfarçável preocupação reproduzia a lógica peculiar do pensamento castrense. A reação foi articulada, brutal e fulminante. De 1964 a 1976. como se fosse um castelo de cartas. os governos progressistas foram caindo um a um. Brasil, Bolívia, Uruguai, Chile e Argentina começaram a conviver com ditaduras. Como se não bastasse o desrespeito aos direitos humanos representados pela censura, prisões arbitrárias e torturas, os novos donos do poder apresentaram uma face ainda mais cruel: o desaparecimento de milhares de pessoas. A violência atingiu especialmente jovens, entre eles, vários atletas.

BRASIL
Brasil, 1964. É cada vez mais forte o avanço do conjunto das teorias político-ideológicas que defendem a criação pelo Estado de um aparato repressivo e até mesmo de um sistema de controle armado capaz de impor sua vontade, e, se necessário, coagir a população para detectar inimigos nos setores de oposição nos quais possa haver infiltração pela ação comunista. Tais conceitos são explorados pelos grupos contrários ao governo constitucional e democrático do presidente João Goulart..
Em 31 de março de 1964, mais uma vez as forças armadas intervêm diretamente no cenário político. Desta vez, ao contrário de outras ocasiões quando foram usadas com uma espécie de poder moderador para resolver graves crises e devolver o poder aos civis, os militares vieram para ficar, mantendo o país por 21 anos sob uma ditadura que, na prática, representou a morte e o desaparecimento de quase 400 cidadãos;

Honra ao mérito. Jovens campeões deixaram o esporte para lutar pela liberdade
A vida era mais segura no alto do pódio. Mas eles preferiram descer e enfrentar um adversário que tinha criado as próprias regras do jogo. Acabaram fatalmente expostos à intolerância. Durante vinte e um anos, entre 1964 e 1985, a ditadura militar barrou com violência manifestações de talento no cinema, nas artes, na música e na literatura. É a parte da história que já está sendo contada. O que ainda não aparece nas telas ou nos livros é a mancha de sangue que ficou em quadras, campos e ginásios. Neste período, uma geração promissora abandonou as competições para participar de uma prova sem medalha.



A Pivô Guerrilheira
Helenice, Helenoida, Helenilda e Helenalda se encontram a cada quinze dias na praia do Guarujá, litoral do estado de São Paulo. Tratam de temas simples, quase não se empolgam. O lamento ecoa quando sentem a falta das outras duas irmãs. Heleneide e Helenira foram assassinadas durante o regime militar. “Helenira era a mais corajosa da família”, lembra Helenalda. Mas a coragem não foi a única herança do pai, um militante do Partido Comunista. Helenira também desenvolveu um amor incondicional pela política e pelo esporte.
Foi incentivada por seu Adalberto que começou a jogar basquete no interior paulista. Sua carreira foi curta. Terminou aos dezessete anos, quando começou o curso na Faculdade de Letras, em São Paulo. Com a mesma liderança que exercia nas quadras, Helenira Rezende entrou para a política, ingressando no PC do B e também exercendo o cargo de vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1968. Esteve presa duas vezes e depois passou a viver na clandestinidade e, nos raros contatos com as irmãs, já não falava mais sobre esporte. O objetivo da atleta era chegar ao Araguaia pé pé pé,[3] região onde foi implantada a guerrilha rural – foco de resistência à ditadura militar.
Na mata, traçando estratégias para combates bem mais tensos do que qualquer final de campeonato, Helenira virou Fátima. Carregava um codinome e a responsabilidade de defender a própria vida – e a dos companheiros. A pivô, “dona do garrafão”, morreu lutando. Segundo relatos dos moradores, em 1972, durante um confronto, Helenira Rezende foi metralhada nas pernas e morta a golpes de baioneta. Tinha 28 anos. O corpo nunca foi encontrado.

O técnico repressor
O basquete também foi o esporte de outro jovem desaparecido. Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, era um dedicado pivô do Minas Tênis Clube no início dos anos sessenta. Sonhava em ser como os jogadores da seleção brasileira bicampeã mundial.
Assim como Helenira Rezende, deixou o esporte quando começou a fazer faculdade. Foi no curso de sociologia que a política passou a ser prioridade. Dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares – VAR-Palmares, Beto entrou para a clandestinidade em 1969. Foi morar no Rio de Janeiro. Sua prisão, em 1971, tem um contorno quase ficcional. Beto foi reconhecido por um torturador na “Casa da Morte”, em Petrópolis, na região serrana do Rio – um dos mais famosos e violentos centros clandestinos de detenção. A lembrança acabou sendo fatal. De acordo com depoimentos de parentes, o algoz tinha sido seu técnico no basquete. Trocaram poucas palavras. O ex-jogador foi baleado e morto poucas horas depois. Viveu intensamente 32 anos.

Remadores na luta armada
Poucos militantes mortos ou desaparecidos amaram tanto o esporte quanto José Huberto Bronca. Na adolescência, em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul no extremo sul do Brasil. Ele treinou ciclismo e natação até se dedicar ao remo, onde conquistou vários títulos. Acabou trocando as águas calmas do Rio Guaíba pela turbulência da guerrilha.
O Movimento dos Desaparecidos Políticos registra que Bronca foi visto pela última vez no dia 25 de dezembro de 1973, quando houve um ataque das forças armadas ao local onde estavam acampados, no Araguaia. Provavelmente foi detido com vida.
Um relatório da Marinha diz que o atleta morreu quatro meses depois. O atestado de óbito foi emitido num decreto e não aponta a causa da morte. A família, que durante anos tentou dar um enterro digno a José Huberto, nunca conseguiu localizar os restos mortais.

O Pugilista Vermelho
De todos estes personagens da história brasileira, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, foi o que mais se destacou no esporte. Metia medo nos adversários. Negro, forte, com 1,98m, Osvaldão surrou muitos desafiantes nos ringues. Foi campeão carioca de boxe pelo Botafogo. Com esta mesma disposição fez história na guerrilha.
O atleta guerrilheiro chegou ao Araguaia entre os anos de 1966 e 1967. Era um dos maiores conhecedores da região e até hoje é lembrado com carinho pelos moradores. Sobreviveu a diversos confrontos com os militares. O último round foi em abril de 1974. Depois de fuzilado, foi levado de helicóptero e teve a cabeça exposta em público. Praticamente não há registro de sua carreira como pugilista. Outro boxeador também desperta atenção não só pelo que fez nos ringues. Virgílio Gomes da Silva, membro da Ação Libertadora Nacional, grupo de esquerda que realizou luta armada contra ditadura, era peso galo na adolescência. Fez boas lutas em competições amadoras de São Paulo e se declarava fã do campeão mundial Éder Jofre. Em 1969, Virgílio participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick – uma das mais conhecidas ações no combate à ditadura militar. Em troca, a operação conseguiu a libertação de quinze presos políticos. Pouco depois, o militante foi preso e torturado até a morte. A família nunca encontrou o corpo de Virgílio.

ARGENTINA
Uma hora da madrugada do dia 24 de março de 1976. Um helicóptero levanta vôo da Casa Rosada, sede do governo argentino. A bordo a já então ex-presidenta María Estela Martínez de Perón, derrubada por uma junta militar. O país que já vivia a triste realidade das prisões arbitrárias, dos atentados e dos esquadrões da morte de direita começa a enfrentar uma das mais brutais ditaduras da história da América Latina
Mesmo antes do golpe a radicalização da política na Argentina já tinha sido responsável por 600 casos de seqüestros, torturas e mortes. A consolidação do poder militar era apenas o que faltava para que se chegasse à impunidade do estado absoluto.
O chamado Processo de Reorganização Nacional cobrou um preço muito alto aos argentinos. No total 364 Centros clandestinos de detenção serviram como uma espécie de “indústria da morte”. Segundo os dados de organismos de direitos humanos, pelo menos trinta mil pessoas desapareceram ou morreram até o final da ditadura em 1983.
Milhares de argentinos não tiveram a possibilidade de dar um enterro digno aos parentes. Foram trinta mil casos durante a ditadura militar entre 1976 e 1983. Pelos menos trinta vítimas eram atletas federados, número maior do que o de países como Brasil e Chile.



O TIME PERSEGUIDO
Raul Barandiarán convive com a dor de perder dezessete companheiros de time em apenas três anos, entre 1975 e 1978. Todos eram jogadores do La Plata Rugby. Foram mortos ou desapareceram durante o governo do tenente-general Jorge Videla. "Muita gente diz que foi por causa desse genocídio que ainda não ganhamos um título nacional", afirma Raul. Apesar disso, o La Plata Rugby se mantém vivo e segue disputando o campeonato argentino.
Eram atletas e amigos como Hernán Rocca, justamente o primeiro a ser morto pelos militares. "Acertaram Hernán com vinte e três tiros. Disseram que uma bala era para ele e as outras para nós", lembra Raul. Hernán Rocca era também o mais politizado. Pediu dispensa de uma excursão do time à Europa. Alegou problemas particulares, mas todos acreditam que ele preferiu ficar para não se afastar da militância. Raul, hoje um arquiteto de 56 anos, foi convocado para a vaga do amigo. "Eu aceitei. Era também uma oportunidade de passar um tempo fora do país. A repressão estava aumentando. Quando voltamos, um mês depois, Hernán tinha sido assassinado".
Além dele foram mais dezesseis e cada um traz uma lembrança diferente. Raul fala de Otílio Pascua e Santiago Viamonte. “Estavam na clandestinidade quando me casei. Tentei convidá-los para a festa, mas não consegui. Quando voltei da lua-de-mel eles tinham desaparecido. Foram torturados e mortos." O La Plata Rugby virou um fantasma para Raul. Um trauma que quase vinte anos de terapia não conseguiram apagar completamente. "Tem vezes que me sinto culpado. Será que eu estive ausente nos momentos mais importantes?". Raul talvez tenha tido apenas mais sorte do que os outros. "Sua participação política não era muito diferente daquela dos colegas mortos. Eles se reuniam para protestar, entregavam panfletos, mas não estavam na guerrilha", observa o jornalista Gustavo Veiga, que investiga o desaparecimento de atletas durante o regime militar na Argentina. "Eles moravam em La Plata, uma cidade universitária e de muita contestação. Por isso, os estudantes locais eram alvos constantes da repressão", conclui.

Uma flor arrancada
Foi na faculdade de medicina, em La Plata, que Letícia Acosta trocou o esporte pela política. Artilheira do Clube Lomas, em Buenos Aires, foi campeã nacional de hóquei sobre a grama e chegou a ser convocada para a seleção juvenil da Argentina. As reportagens de jornais guardadas numa velha caixa vermelha não deixam dúvidas da paixão e do talento da camisa sete. "Não sabia que a minha filha estava envolvida em política", conta Teresa Acosta. "Para mim ela só pensava em hóquei".
Em maio de 1978, quando o país já estava no clima da Copa do Mundo, Letícia foi seqüestrada por agentes numa pizzaria da capital. Tinha 22 anos. Adriana, a irmã mais nova, foi a única a receber notícias. "Naquele dia tive certeza que ela não voltaria mais". A incrível semelhança entre as duas irmãs permite concluir que fica ainda mais difícil esquecer o que passou. Quase trinta anos depois, o lar dos Acosta em Buenos Aires ainda parece esperar a volta de Letícia ou pelo menos ter a chance de saber o que realmente aconteceu.

A CANCHA VAZIA
A intolerância do regime não perdoou nem mulheres grávidas e seus bebês. Daniel Marcelo Schapira, 33 anos, tinha nove meses quando a mãe foi presa, torturada e morta. Ele não conheceu o pai, o ex-tenista Daniel Schapira, detido dias antes do seu nascimento. "Eu sei que meus velhos tentaram mudar o mundo. Lutaram pela liberdade. Tenho muito orgulho deles", conta Daniel. "Meu pai esteve três vezes entre os dez primeiros do ranking nacional. Era um bom jogador e, acima de tudo, um homem honesto", completa.
Daniel Schapira morreu em 1977 na Escola Mecânica da Armada, a ESMA, um dos mais violentos centros clandestinos de detenção. Em sua homenagem comemora-se dia 18 de outubro, data de seu nascimento, o Dia do Professor de Tênis na Argentina.

MARATONA SEM FIM
Miguel Benâncio Sanchez, poeta e corredor, tinha uma meta: disputar a Corrida de São Silvestre, em São Paulo. Para isto, procurou Osvaldo Suarez, tricampeão da prova nos anos 60 e um dos nomes mais importantes da história do atletismo argentino.
O atleta alcançou parte do objetivo. Nunca esteve entre os primeiros, mas correu a prova em 1975 e 1976. Voltou em 1977, mas não sabia que aquela seria sua última passagem pelo Brasil. "Antes de partir para São Paulo ele foi até o quarto e me deu um beijo. Eu estava dormindo, mas acordei logo depois e fui abraçá-lo. Alguma coisa me dizia que ele estava correndo risco", lembra Elvira, a irmã mais velha. Miguel, integrante da Juventude Peronista de Berazategui, ao sul de Buenos Aires, ainda competiu em Punta del Este, no Uruguai, e voltou para casa no dia oito de janeiro. Na mesma noite foi levado por um grupo de policiais e desapareceu. A hipótese mais provável é que o corpo tenha sido jogado num rio, aos vinte e cinco anos de idade. Algumas testemunhas dizem que Miguel Sanchez, fanático por futebol, sofria tortura durante os jogos da Argentina no Mundial.
Foram duas décadas sofrendo em silêncio. Em 1998, Elvira Sanchez e um jornalista italiano que se interessou pela história organizaram a primeira "Corrida de Miguel". Dez mil pessoas tomaram as ruas de Roma. Nos anos seguintes, a prova ganhou edições em Buenos Aires e Tucumán. E, aos poucos, vai se tornando um símbolo da luta travada pelos atletas desaparecidos.

CHILE
O ex-presidente chileno Salvador Allende entrou para a história da política mundial como o primeiro marxista a chegar ao poder através das urnas. No dia 11 de setembro de 1973, aos 65 anos de idade, após o bombardeio do palácio de La Moneda, a casa de governo no centro da capital Santiago, tornou-se uma das primeiras vítimas da ditadura militar chilena, que durou 17 anos e deixou pelo menos 3 mil mortos ou desaparecidos.

A caça aos ciclistas
O General Augusto Pinochet atacou o esporte desde o início de seu violento e intolerante governo. Uma das primeiras medidas, em 13 de setembro de 1973, apenas dois dias depois do golpe, foi desistir de sediar os Jogos Pan-Americanos de 1975, em Santiago (transferido para a Cidade do México). Pinochet queria os holofotes da mídia longe do país. A cena de milhares de presos no Estádio Nacional certamente provocaria reações em todo o mundo. No entanto, uma das ações mais prejudiciais ao esporte chileno foi feita em silêncio, oito meses depois.

A Operação Bicicletas
O dia vinte de junho de 1974 ficou marcado negativamente no calendário esportivo latino-americano. Às onze da manhã, agentes da DINA, a polícia política chilena, invadiram uma oficina de bicicletas e levaram Luis Julio Guajardo Zamorano, ciclista internacional e militante do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). Os mesmos policiais voltaram no início da tarde e seqüestraram Sergio Tormen Méndez, 25 anos, campeão nacional de ciclismo, e seu irmão Peter, de apenas 14 anos. A operação terminou por volta das nove da noite com a prisão de Andrés Gutiérrez, treinador da seleção chilena de ciclismo.
Gutiérrez e Peter Tormen ficaram dois dias num centro clandestino de detenção e depois foram liberados. Os ciclistas Luis Guajardo e Sergio Tormen seguiram presos e nunca mais foram encontrados. Três testemunhas afirmam que os atletas sofreram torturas na prisão. Segundo estes depoimentos, Tormen foi jogado ao mar. Guajardo teria sido levado num jipe dos militares para reconhecer companheiros de partido nas ruas de Santiago, mas se recusou a dar informações e foi atropelado pelos agentes.

O pódio como palanque
A dor da perda não afastou a família Tormen do esporte. Richard, também ciclista, se empenhou ainda mais nos treinos. “Me esforcei muito. Queria conquistar títulos para ser recebido por Pinochet e perguntar onde estava meu irmão”, lembra Richard, hoje com 55 anos e morando em Santiago. O atleta atingiu parte do plano traçado. Conquistou a única medalha de ouro do Chile no Pan de San Juan (Porto Rico), em 1979. Mesmo assim, não chegou perto do General, que preferiu uma homenagem a todos os medalhistas. “Dediquei a vitória a Sergio, mas não teve repercussão na época”.
“A censura atacava por todos os lados”, conta Richard. Nosso primeiro contato com o ex-ciclista foi no fim do ano passado, pelo telefone. “Estamos perto do natal. Esta data mexe muito com toda a nossa família. Mas não há problema. Estas histórias precisam ser contadas para que nunca mais se repitam”.
O protesto e a indignação dos Tormen ganharam eco em 1987, justamente na voz da última pessoa da família a ver Sérgio com vida. Peter, o terceiro ciclista do clã, chegou em primeiro lugar na Volta do Chile – uma das mais tradicionais provas de estrada do país. Não teve dúvidas. Dedicou a vitória ao irmão desaparecido durante uma entrevista ao vivo para a TV, que saiu temporariamente do ar segundos depois da declaração.
Durante a ditadura o esporte chileno também perdeu um ex-campeão de boxe peso pesado. Wagner Salinas era Militante do Partido Socialista e segurança de Salvador Allende. Foi preso na “Caravana da Morte”, uma ação do exército que percorreu o país atrás de opositores.
O General Augusto Pinochet morreu em dezembro de 2006. Manuel Contreras, que chefiou a Dina, cumpre pena por assassinatos, entre eles o de Sérgio Tormen – o mais vitorioso atleta desaparecido durante ditaduras militares na América Latina. Tarde demais. Deixaram marcas que até hoje o esporte chileno tenta apagar.

BOLIVIA
Em agosto de 1971 o General Hugo Banzer liderou uma revolta militar apoiada por partidos políticos conservadores para derrubar o governo de Juan José Torres, de tendências esquerdistas. Aquele foi mais um dos 187 golpes de estado em uma república com apenas 146 anos. A aliança com os partidos políticos terminou com um autogolpe em novembro de 1974, que lhe permitiu contar com poderes absolutos e a capacidade de impor uma série de leis autoritárias. Era a ditadura sem máscara.
Não há informação oficial a respeito do número de execuções por motivos políticos, prisões ou exilados na Bolívia durante este período. Os números mais confiáveis apontam 200 desaparecidos, 3.000 presos e milhares de exilados, mas órgãos de direitos humanos falam em pelo menos 500 mortos e desaparecidos, além de 35 mil bolivianos presos ou exilados.
Em toda América Latina desportistas tiveram uma atitude corajosa, mas que em muitos casos ficou esquecida. Para o historiador brasileiro Daniel Aarão Reis, "é um tema que ainda não foi estudado e que deve ser levado adiante". Estes acontecimentos derrubam a tese de que os atletas eram alienados politicamente.
Como qualquer outra categoria serve para eles a singela homenagem estampada na parede dos desaparecidos de La Plata, capital da província de Buenos Aires:

Debe ser parte de la vida de un pueblo
reconocerce en los ideales y en los valores
de una generación que con su dignidad
y esperanza luchó por cambios. Una generación
que debe mantenerse enraizada en nuestra
memoria y ser parte de nuestra identidad.

[1] Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Universidade Luterana do Brasil.
E-mail: marcovargas450@hotmail.com.
[2] Rede Globo de Televisão-Brasil . Marcelo.outeiral@tvglobo.com.br.
[3] Movimento armado promovido por militantes do PC do B no sul do estado do Pará e na região onde hoje está localizado o estado de Tocantins no norte do Brasil. Sessenta e nove guerrilheiros combateram durante quase três anos entre abril de 1972 e janeiro de 1975 a pelo menos dez mil soldados do Exército, ajudado pela Marinha e Aeronáutica.

jueves, 24 de abril de 2008

Presentación de la Red.

FORO MERCOSUR DE LA

EDUCACIÓN FÍSICA, EL DEPORTE Y LA RECREACIÓN

DEPARTAMENTO DE MEMORIA, VERDAD Y JUSTICIA

Mg. Lic. María Laura González de Alvarez
AGUDEF
Tucumán - Argentina


Un camino para la reconsideración de la Educación Física, el Deporte y la Recreación como disciplinas democráticas, puede ser desvelar su recorrido histórico y la caracterización de las prácticas docentes y profesionales desde su fundamento epistemológico variable acorde al transcurso de la historia en Latinoamérica-.

Atento a considerarla liberadora desde la mirada de lo corporal y, fundamentalmente, desde su incidencia en la educación de los sujetos, podríamos reconocer a la Educación Física, el Deporte y la Recreación, como espacios de lucha permanente en la conquista de la autonomía, la construcción de la identidad, la promoción personal-social y la autodeterminación.

El estudio de la historia de la Educación Física, el deporte y la recreación latinoamericanos marca una fuerte adhesión al control, la ejercitación, la normatización y el ordenamiento de, para y con el cuerpo, no sólo desde o individual sino también desde lo grupal y social.

El cuerpo y las intervenciones sobre él, han sido terreno de disputas, ya que han formado parte de dispositivos de poder en todas las épocas y sobre todo en las últimas centurias. El siglo XX expresó acentuadamente el conflicto alrededor del control de los cuerpos, con cifras escalofriantes de muertos por guerras situación que aún continúa

La estructuración de las prácticas históricas, muchas veces sujetas a modelos espartanos, de fuerte acento en la formación militar, es coherente con su aplicación en exhibiciones uniformes multitudinarias, en su administración para el control de las masas, como recurso de selección y hasta su uso como castigo y disciplinamiento.

Una mirada hacia el ámbito escolar parece no ser diferente: marchas, evoluciones, formaciones, voces de mando y exhibiciones sujetas a concientes modelos y normas autoritarias siguen aun vigentes a pesar de la contraposición con renovados estilos de educación.

En1984 un grupo de artistas plásticos diseña y construye un mural que plasma aun hoy en una de las galerías de la Facultad de Educación Física, la denuncia universitaria del empleo de la institución educativa como espacio del terrorismo de estado.

En 1998 la Universidad Nacional de Tucumán honra la memoria y coloca dos placas en la hoy, facultad: una declarando al espacio como Monumento Histórico a la Memoria y otra en homenaje al alumno Gustavo Santillán desaparecido en 1976. En agosto del 2002 el H.C.S de la UNT designa a la institución “Sitio Permanente de la Memoria” entendido como “sitio de recordación permanente para las presentes y futuras generaciones de un período trágico de nuestra historia”.

La democratización de la hacia prácticas más democráticas, pluralistas, inclusivas y liberadoras sigue siendo una preocupación para un un importante conjunto del profesorado. Lograrlo implicaría importantes acciones:

a.- Reconocer las prácticas históricas, su origen y modelos de intervención.

b.- Identificar los procesos históricos a través de los cuales se gestaron y a los cuales adhirieron o dieron respuesta.

c.- Revisar su vigencia actual.

d.- Deconstruir y construir nuevas prácticas más ajustadas a las necesidades de nuevos niños y jóvenes en la formación de nuevos ciudadanos.

e.- Revisar y reformular la formación de profesores y reactualizar su sentido en función de un mundo que exige urgente atención a la conservación de su existencia.


Durante el transcurso de los años de fines de siglo, fueron surgiendo en Latinoamérica grupos de profesores que comprendieron y anticiparon la necesidad de transformar las prácticas de Educación Física y buscaron caminos para llegar a ello.

En esos primeros tiempos nuevas alternativas ideológicas ofrecieron un marco propicio para lograrlo, y muchos docentes adhirieron a ellas con diferentes intensidades y a través de distintas acciones: reflexionando a solas, buscando aplicar nuevas estrategias en sus prácticas, promoviendo la transformación de la formación en los profesorados, constituyendo grupos de estudio, lanzando un llamamiento a integrarse en grupos de orden académico o político, movilizando la toma de conciencia de los estudiantes o embanderándose ideológicamente en grupos de gran protagonismo político.

La lucha por abrir la mirada había comenzado y los matices de participación desde distintos núcleos del profesorado, fueron diversos y por ello igualmente diversos sus efectos sobre la disciplina y sus prácticas así como las consecuencias sobre sus actores.

Posiciones encontradas en la ideología y la política llevaron a serios enfrentamientos de distintos grupos, no sólo a nivel nacional sino en toda la región latinoamericana, en los que la intolerancia radical fue ingrediente permanente de la lucha política y militar, y la soberbia oficial, el poder y la ilegalidad justificaron prácticas del estado por encima de la razón, la justicia y la ética.

Distintas instituciones fueron escenario de estas acciones convirtiéndose en espacios de represión, confinamiento y privación de la libertad.

En cuanto a las dedicadas a la Educación Física, en la provincia de Tucumán (Argentina) un espacio académico llegó a ser apropiado por el ejército. La entonces Escuela Universitaria de Educación Física (primera institución formadora de profesores de Educación Física en el NOA) dependiente de la Universidad Nacional de Tucumán, fue ocupada a principios de 1976 y durante casi dos meses funcionó como centro clandestino de detención.

En el I Foro MERCOSUR Latinoamericano “Democratización de la Educación Física, el Deporte y la Recreación” organizado en Buenos Aires en diciembre de 2006 se realizó un panel en homenaje a los profesores y estudiantes de Educación Física desaparecidos en la República Argentina y el tema también fue tratado en el II foro MERCOSUR desarrollado en Venezuela.

A esta altura de los tiempos deberíamos tratar de ver qué nos pasó en los diferentes contextos históricos, reconocernos, compilar documentación y fuentes y abrir reflexiones no para cerrar discursos para ser obedecidos sino para provoca una memoria viva que otorgue el espacio humano necesario para evitar repeticiones inconscientes de tamaña gravedad.

Una nueva mirada convoca a la sabia convivencia con las ideas diferentes, en el respeto por el que plantea ideales distintos y caminos también distintos para lograrlos. Es por ello necesario construir una actitud revolucionaria tolerante frente a la intolerancia histórica que nos permita mantener nuestros ideales sin convertirlos en dogma o ideología cerrada sino en una posición abierta de escucha, comprensión y respeto. Superar, como expresa Pablo Freire (2006),“el odio recíproco que petrifica y deshumaniza…la imposibilidad de diálogo y el menosprecio por la vida” pretendemos abrir un espacio para la Memoria colectiva, no para cristalizar o cerrar el pasado sino para leerlo, revisarlo y comprenderlo, basándonos en el respeto ineludible por la dignidad humana y por el funcionamiento institucional democrático.

El Departamento de Memoria, Verdad y Justicia debería pretender:

- Desafiar a la MEMORIA reconstruyendo el hilo histórico de las prácticas de Educación Física y sus protagonistas.

- Documentar la VERDAD histórica sobre todos los hechos de discriminación al extremo de la desaparición física, así como cualquier estrategia de desvalorización, expulsión y/o migración forzada y sus consecuencias.

- Alentar desde una fuerte concepción de dignidad humana y profesional, toda reparación histórica que permita hacer JUSTICIA sobre los hechos de discriminación ideológica.



PROPUESTA DE ACCIONES:

Ø Tomar contacto con todas las instituciones de formación en Educación Física de Latinoamérica.

Ø Registrar la existencia de espacios institucionales, departamentos, centros o grupos de estudio que abordaran o aborden la problemática de la violación de los derechos humanos.

Ø Diseñar un Registro único de instituciones relacionadas con el tema.

Ø Arbitrar estrategias para poner en conocimiento del FORO y articular acciones con los distintos departamentos que conforman el mismo.

Ø Promover e Impulsar la firma de acuerdos de colaboración e investigación con distintas organizaciones dentro y fuera del Foro.

Ø Investigar y documentar sobre desaparición física de profesores y alumnos o hechos de discriminación ideológica.

Ø Promover la puesta en uso de archivos y centros de documentación referidos a los temas del Departamento.

Ø Construir un archivo fehaciente y documentado que viabilice la elaboración de un texto escrito.